domingo, 10 de outubro de 2010

IVOMEC Mocinho, Vilão ou outra vítima de mau uso ?

Rodrigo Silva Miguel – é médico veterinário e criador de aves ornamentais – CCCC - 293

I – Introdução

O uso do Ivomec na criação de aves ornamentais começou como o de outros mecidamentos, como antibióticos, antiinflamatórios, etc.: com adaptações de fármacos produzidos para mamíferos como cães, bovinos e até mesmo humanos, ou da avicultura de produção, onde considerando-se os pesos das aves, as doses são altíssimas.

A rigor esta atitude não é condenável pelo fato que naquela época e até mesmo hoje haver uma carência de medicamentos específicos para passereiformes. Essa prática pode e até deve continuar por facilitar o tratamento de nossas aves, porém, se algumas observações básicas não forem feitas, isso pode levar ao fracasso, o melhor plantel do mundo.

A Ivermectina (Ivomec está no mercado desde 1981 e até hoje é um dos antiparasitários de maior sucesso no tratamento de endoparasitas (nematóides), ectoparasitas (ácaros e piolhos sugadores). Isto se deve por sua ação particular no sistema nervoso (GABA) dos parasitas, o que dificulta o aparecimento de resistências.

Por essa capacidade de ação no sistema nervoso, começou-se a estudar uma possível ação, do fármaco no sistema nervoso dos hospedeiros (aves, bovinos, cães, etc.) detectando-se alguns efeitos colaterais em algumas raças de cães e também em animais que receberam superdosagem. Esses efeitos colaterais variam de incordenação motora e tremores transitórios, perda de fertilidade por algum tempo em mamíferos até mortes em alguns casos.

Devido à carência de estudos a respeito do uso e efeitos colaterais de Ivermectina em aves, decidimos desenvolver um trabalho específico, em conjunto com o departasmento de Farmacologia, Toxicologia e Patologia da USP, patrocinado pelo CNPq. Este trabalho ainda está em andamento sob os estudos da Dra. Camila G. Pontes (formanda da USP), e a cada nova fase, mais subsídios são somados aos resultados demonstrados a seguir:

2 – Objetivos

A intenção de se tratar a ação e os possiveis efeitos colaterais da Ivermectina em aves teve como principais objetivos confirmar a eficácia da dose recomendada no tratamento de endo e ectoparasitas, determinar os efeitos na reprodução (número de ovos, ovos brancos, morte embrionária e viabilidade de filhotes), além de fixar o que seria uma superdosagem prejudicial às aves.

Foram usados 36 casais de Manons (Munia demonstica) em gaiolas separadas onde observou-se por 2 ninhadas os parâmetros reprodutivos acima indicados. Os dados foram anotados e logo após essas duas ninhadas, os casais foram divididos em quatro grupos para a administração da droga.

Grupo 1 – Controle injetado apenas propilenoglicol *(diluente)
Grupo 2 – Machos tratados com Ivomec
Grupo 3 – Fêmeas tratadas com Ivomec
Grupo 4 – Casal tratado com Ivomec

A aplicação foi feita na dose de 0,01 ml por kg de peso vivo (dose recomendada na literatura) por via intramuscular peitoral. Para conseguir um volume significativo para a aplicação houve necessidade de diluição do Ivomec em propilenoglicol.

Observou-se a reprodução e na análise das ninhadas houve um aumento na produtividade (número de ovos e de filhotes) explicado pela desparasitação das aves.

A partir desta constação começamos a aumentar as doses na ordem de 10 vezes para cada ninhada onde começaram a aparecer alterações reprodutivas com queda do número de ovos e/ou queda de fertilidade (ovos brancos).

Hoje o experimento continua e já está em uma dose bastante elevada sem apresentar sinais clínicos de efeitos nas aves, a não ser, diminuição da reprodução.

3 – Conclusões

1 – Confirmou-se a eficácia do Ivomec no tratamento de endo e ectoparasitas das aves ornamentais.

2 – Confirmou-se a dose recomendada e a ausência de efeitos colaterais tanto nas aves quanto na sua reprodução nessas condições.

3 – Confirmou-se o efeito prejudicial se usado em dose errada ou de forma continua.
4 – Em dosagens muito elevadas pode provocar convulsões, tremores, cegueira e até morte.

5 – É o medicamento de maior eficácia para o tratamento de ácaro de traquéia e com os resultados rápidos.

6 – Pela dificuldade de diluição a campo, foram feitas algumas adaptações como colocar uma gota de seringa de insulina na musculatura do peito, ou usar a formulação Pour-On (azul) pingando no bico ou nuca da ave.

7 – Seguindo essas formas de administração, não se consegue atingir doses prejudiciais podendo ser usado com segurança tanto para a ave quanto para a sua reprodução.

8 – O único cuidado deve ser com a época e a freqüência de administração do Ivomec, que deve ser determinada pelo veterinário responsável pelo plantel de acordo com a espécie, época de reprodução e grau de parasitismo.

4 – Considerações Finais

Esses dados foram extraídos de trabalho científico realizado por nós dentro da faculdade de Medicina Veterinária da USP e confirmados na prática em nossa criação situada no município de Batatais, São Paulo, onde tratamos diferenciadamente 3000 matrizes de 28 espécies de aves.

Extraído da Revista do Clube de Criadores de Canários de Campinas – edição de 1.999

Fonte: http://www.curioonline.com.br/userfiles/file/ivomec.pdf

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